Mulheres acima dos 50 anos podem tudo

mulheres acima dos 50 podem tudo

*Por Daniela Barreiro

Todo mundo diz que em certo momento da vida a gente abre um baú e começa a resgatar todas as lembranças. Hoje, aos 59 anos, surfando sobre as ondas da inteligência artificial, flertando com algoritmos sedutores e numa paquera sem fim com o Chat GPT, lá quero eu abrir baú?

Esqueça o baú.

Deixe pra lá essa caixa empoeirada e cheia de ácaros e mofos. Olhe para o mundo em sua volta. Tudo em movimento. Quantas possibilidades de viver novas experiências ao sabor do vento? Quem não lembra daquele filme “De Volta para o Futuro”? Será que, de repente, uma nave chamada “futuro” não está de portas abertas no quintal de sua casa? Lembro-me do que minha mãe contou sobre o que ela sentiu quando fez 50 anos. Olhou-se no espelho e aterrorizada pensou: “Meu Deus! 50 anos! Estou ficando velha”.

Naquele instante, ela começou a sentir a crise batendo à porta, o peso da idade, o medo de ficar velha e perder o viço, a beleza, a energia, a vitalidade da juventude derretendo aos poucos. A irreversível condenação de ser apenas uma velhinha simpática. Então, por toda essa implosão de músculos, células e autoestima, eu acreditei que quando chegasse aos 50 anos estaria impedida de fazer uma série de coisas, pois seria considerada velha demais. Como usar minissaia, salto alto, deixar o cabelo comprido ou começar uma nova jornada profissional?

Muita gente reclama que o tempo passa quando, na verdade, somos nós que passamos pelo tempo. Essa dinâmica me permitiu observar, então, que cada pessoa encontra uma forma diferente para encarar o “tictac” da vida. Foi assim que concluí que não posso me basear na experiência, no estilo de vida e na história das outras pessoas para construir a minha caminhada. Portanto, prefiro seguir os passos daquelas que buscaram o que os outros não gostariam que elas buscassem. Compreendo que há uma série de fatores envolvidos, como o ambiente no qual vivemos, a genética herdada, hábitos pessoais, nossa própria conduta perante as adversidades, crenças, o cuidado que temos com o corpo, a mente e o espírito.

Mas vamos avançar sobre a faixa invisível que separa o que desejamos do que não acham normal para a nossa idade.

E o que os outros vão dizer? Ah, já bem cantava em alto e bom som Paula Toller: “os outros são os outros…” e basta! O que desejo, do fundo do meu coração, é que o meu trabalho de abelhinha torne a sua vida mais doce e experimental. Espero que você seja capaz de levantar as velas de sua vida para navegar pelo mar que desejar e sem medo das tempestades. Que o baú dessa viagem seja enterrado numa ilha Caribenha, ao som de uma “salsa caliente”, e recheado de belas aventuras, emoção e um cartão-postal com uma frase bem sugestiva: “Não é que a louca conseguiu”!

Dessa forma, fui descobrindo que não há padrão e que é plenamente possível chegar aos 50 se curtindo mais e curtindo a vida, vivendo aventuras, com o corpo suspenso sobre uma barra de pole dance ou espremido pela velocidade em cima de uma moto. Estudar, fazer yoga, aprender novas línguas, reafirmando, dia após dia, para si mesma que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Enfim, sendo o que sou e o que sempre quis ser.

 

*Daniela Barreiro é assistente social, jornalista e especialista em Direito Educacional. Apaixonada por  pessoas, ao longo de anos vem se dedicando a falar com e para mulheres. Tem como missão  resgatar histórias esquecidas, celebrar a diversidade e a resiliência humana.

 

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