A decisão de fazer uma cirurgia de lipedema nunca é fácil. Ela vem depois de anos de dor, de pernas pesadas, de hematomas que aparecem do nada e, acima de tudo, da frustração de ser julgada e incompreendida.
Quando essa decisão é tomada, ela não é motivada pela vaidade, mas sim pela esperança de ter uma vida normal, de poder andar sem dor.
E no meio desse processo, surge uma angústia muito prática: “Eu vou precisar de um longo tempo de recuperação. O INSS vai cobrir meu afastamento?”.
Cirurgia de lipedema: a dor que não é vista
Para quem está de fora, o lipedema é visto como “gordura” ou “obesidade”. Mas só você sabe que é uma doença. É uma condição que dói ao simples toque, que causa uma sensação de peso constante, como se você estivesse usando calças de concreto.
É uma luta diária que vai muito além do espelho. É a dificuldade de encontrar roupas, o cansaço para subir escadas e a sensação de que seu corpo está em guerra com você. Muitas vezes, essa condição se enquadra em um quadro de CID dor cronica intratável.
A cirurgia é estética ou reparadora? A grande batalha
Este é o coração da sua luta com o INSS. Para a Previdência Social, procedimentos “puramente estéticos” não dão direito a benefícios, nem mesmo ao afastamento para recuperação. E, por muito tempo, a cirurgia de lipedema foi colocada nessa caixa.
O que o INSS precisa entender, e o que você precisa provar, é que a sua cirurgia não é para “ficar mais bonita”. Ela é uma cirurgia reparadora e funcional. O objetivo é remover o tecido doente que causa dor, inflamação e dificuldade de locomoção.

O INSS e a visão sobre a cirurgia de lipedema
Quando você der entrada no seu pedido de auxílio-doença, o médico perito do INSS não estará avaliando se você “merece” a cirurgia. Ele estará avaliando se a sua recuperação te torna temporariamente incapaz para o trabalho.
O problema é que, se o perito olhar seu pedido e enxergar a palavra “lipoaspiração”, ele pode, indeferir o pedido, alegando ser um procedimento cosmético. A sua missão é desconstruir essa visão sobre a cirurgia de lipedema.
O direito ao afastamento: o que a lei diz?
Você tem, sim, o direito de se afastar pelo INSS após uma cirurgia de lipedema. A lei garante o auxílio-doença para qualquer segurado que fique incapacitado para o trabalho por mais de 15 dias, não importa a origem da doença.
A recuperação dessa cirurgia é intensa, dolorosa e longa. Ela envolve drenagens, uso de malhas de compressão e repouso absoluto. Você estará incapaz de trabalhar. A questão não é se você tem o direito, mas como provar que tem.
A perícia médica: o momento de provar a sua verdade
O dia da perícia é um momento de grande ansiedade. O medo de ter sua dor diminuída ou ridicularizada pelo perito é tão grande que algumas pessoas se perguntam: “posso desistir da perícia do INSS?”.
Essa ansiedade é compreensível, mas desistir é a pior escolha, pois significa abrir mão do seu direito, a sua ausência leva ao arquivamento imediato do seu pedido. O caminho é ir e se preparar.
O laudo médico: sua arma mais poderosa
Se a sua cirurgia ainda não foi feita, converse abertamente com seu médico. O laudo que ele vai preparar para o INSS é a sua arma mais poderosa.
Esse documento não pode ser um simples atestado. Ele precisa ser um relatório detalhado, usando o CID da doença (Lipedema – E88.2), explicando por que a cirurgia de lipedema é funcional, quais são suas limitações e por que ela é necessária para a sua saúde e mobilidade.
O passo a passo para solicitar o auxílio-doença
Após a cirurgia de lipedema, seu médico te dará um atestado com o tempo de repouso (que pode variar de 30 a 90 dias). Você deve entregar esse atestado na sua empresa, que pagará os primeiros 15 dias.
Para o período que ultrapassar os 15 dias, você deve dar entrada no “Benefício por Incapacidade Temporária” no Meu INSS, agendando a perícia ou usando a análise de atestado (Atestmed), anexando seu laudo poderoso.

E se o INSS negar? o que fazer?
Existe um risco real de o seu pedido ser negado na primeira tentativa, justamente pela confusão entre estético e reparador. Se isso acontecer, não se desespere. É o começo da luta e nessa fase um bom advogado previdenciário pode ajudar.
O primeiro passo é entrar com um recurso no próprio INSS. Se o recurso também for negado, o caminho é buscar a Justiça.
Na Justiça, um juiz analisará o caso com mais calma e um perito judicial, especialista, fará uma avaliação mais completa da sua cirurgia de lipedema.
O INSS e seus diferentes processos
É importante saber que o INSS lida com milhares de situações diferentes, e cada uma tem uma regra específica. A sua luta para provar que a cirurgia de lipedema é reparadora é muito diferente da angústia de uma família que precisa resolver um problema de representação legal.
São processos distintos, como a situação desesperadora de quando um curador faleceu o que fazer inss para não perder o BPC. Assim como essa família precisa de uma ação judicial para nomear um novo curador, você talvez precise da Justiça para provar a natureza da sua cirurgia.
A sua jornada para fazer a cirurgia de lipedema já é uma vitória. A luta pelo seu direito de se recuperar com dignidade é apenas a próxima etapa. Reúna seus laudos, seja firme e não aceite que sua dor seja tratada como vaidade.
















